sábado, 22 de fevereiro de 2014

A Casa com Alpendre de Vidro Cego - Opinião



O titulo chamou-me a atenção. A sinopse disse-me que este era um livro que queria ler.Terminei a leitura do "A Casa com Alpendre de Vidro Cego" com o coração pesado, com um misto de solidariedade e de esperança, por Tora.
Tora é uma menina que carrega uma herança pesada demais para a sua idade, uma culpa que não é sua. Ser filha do "inimigo" pôs-lhe a alcunha de "fedelha alemã" e ela, ainda que não entenda bem o porquê desse nome, consegue sentir o escárnio e o desprezo na voz de quem o diz.

Ingrid, a mãe,  apaixonou-se durante a guerra por um soldado alemão. Desse amor nasceu Tora. O destino roubou-lhes a hipótese de saber se daria certo uma relação tão improvável e Ingrid fica sózinha, com o peso do seu "atrevimento" para os outros a ostracizarem, a começar pela família. Apenas Rakel, a irmã, parece compreender Ingrid e dar-lhe algum apoio.

Entretanto Ingrid tudo faz para ter uma casa que se possa chamar de Lar. Trabalha arduamente, deixando a filha à noite para ir trabalhar. E é à noite que tudo acontece. 
O padrasto de Tora é um homem bruto, problemático e agressivo. A crueldade que impinge a Tora é desumana e revoltante. 
Tora perde-se nos seus pensamentos, não vocalizando todas as suas dúvidas, receios e angústias. Também não partilha com ninguém, nem com a sua amiga Sol, o que lhe acontece de noite, quando Ele entra no seu quarto e se aproveita da sua inocência. Nessas situações, Tora aprendeu a sair do seu corpo e não sentir o que lhe está a acontecer. Essa capacidade que a protagonista relata é assustadora e comovente.

Rakel é a única que lhe diz o que a menina quer saber. É a única que lhe oferece algum conforto com palavras e gestos, já que a mãe se fechou numa bolha, pelo seu desgosto, e  é incapaz de eliminar a barreira que existe entre si e a sua filha. Apesar de, quando o marido não esta presente, conseguirem ter momentos agradáveis, até com alguns sorrisos, esse "pouco" está longe de ser satisfatório numa relação entre mãe e filha, especialmente com as particularidades da vida de Tora e que a mãe, aparentemente, desconhece.
O livro é repleto de personagens complexas que nos dão que pensar. A autora usou como cenário uma aldeia pobre da Noruega, cujos habitantes têm pensamentos tacanhos e moralistas, que vive à custa da pesca e muitas vezes em situações de pobreza e miséria.
A leitura pode parecer complexa por isso deve ser feita com calma, com tempo para reflexão ao longo da leitura. O livro faz-nos pensar, questionar, reflectir.

O desfecho do livro não se concretizou. Ficamos na expectativa do que está para vir. É uma leitura forte, que traz ao de cima sentimentos tão contraditórios como repulsa e piedade, nojo e carinho, solidariedade e ódio. 
Fiquei com o coração apertado com a capacidade de sobrevivência desta menina, que tenta por tudo imaginar um mundo mais cor de rosa para tornar a sua vida mais feliz, apesar do cinzento dos seus dias. Ela revela uma força e coragem que nos deixam assoberbados e com curiosidade para ler o próximo volume. 

Sem comentários:

Enviar um comentário